quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

domingo, 9 de novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

sábado, 1 de novembro de 2008

Senhor do Pier - 1ªParte

“História escrita por um filho que relata a composição da figura do Senhor do Píer o velho marinheiro de estaleiro que é sem nunca ter sido.”

O Senhor do Píer

O velho caminhava com dificuldade pelo mato, seus pés vestindo suas gastas chinelas que se arrastavam para levantar nuvens de poeira e rolar pedrinhas. Ele olhava pelo chão coberto de grama, vinhas e pedras. Naquele caminho turvo as mãos vincadas e curvas carregavam a bengala que com pouca força apalpava o chão, revirando latas e sucatas espalhadas a sua volta. Essas mesmas mãos que anos antes desenhavam maravilhas estonteantes no papel, naquela tarde tornariam sonhos em realidade, sonhos de um vento quente no rosto, de uma água fresca do mar, de um gosto de sal na boca e de um sol amarelo na pele. Sonhos de ondas, sonhos de barcos, sonhos com a própria Iemanjá nossa senhora do mar.
O que a infância e a maturidade sonhavam e que quando adultos nunca podemos nos dar ao luxo de realizar ele procurava desenterrar das lembranças e fazer acontecer. As lembranças de sermos livres e viajar pelo mar da liberdade de nossas vidas.
Aquelas mãos montavam pequenas obras de arte, vindas dos lixos dos terrenos baldios. Lixos não, matéria-prima de tesouros, largados pela infelicidade que todos sentimos em não sermos livres. Uma pequena tampa de plástico haveria de se tornar um belo timão, um botão de roupão um bonito arreio, um tubo uma guarnição e todas as caixas de papelão do mundo daria forma aos pequenos cascos. Traineiras, pesqueiros, barquinhos e tantas outras formas que os grandes e pequenos mares podiam abrigar. O mar, que fazia velhas mãos se transformarem em novos sorrisos nos rostos dos que não precisa lembrar-se de sonhar com a bela liberdade de navegar.
Naquela tarde as coisas pelo chão pareciam ainda mais belas, elas transpiravam qualidades que os olhos destreinados não enxergariam. Os metais brilhavam mais, a madeira estava mais viva e até os eternos pedaços de plásticos pareciam querer retomar a vida que nunca tiveram. A mesma mão que catava as preciosidades do chão também coçava o queixo em dúvida do que poderia ficar melhor em determinada composição. Aqueles braços não podiam mais dar conta do peso da idade e do que viria a encontrar por ali. Eram decisões difíceis. Relegar ao relento e as intempéries tanta bela matéria prima, só pela falta de espaço

Senhor do Pier - 2ªParte

nos armários da oficina seria trágico. O aposento, adaptado da garagem do carro que nunca existiu nem foi dirigido, agora era um estaleiro artesanal.
Eram centenas de projetos, barcos e cascos inacabados, empilhados uns sobre os outros, esperando aquela mão de tinta ou aquele último retoque de verniz para viajar às ávidas mãos de diversos garotos da vizinhança que se encantavam com o artesão e suas criações.
Até mesmo aquele trabalho especial e detalhado do galeão espanhol acabou zarpando para mãos mais jovens, dispostas a por em prática dezenas ou centenas de aventuras que antes aguardavam o meio de fluírem pelo mundo. Netos e sobrinhos, vizinhos e amigos. Crianças de todas as idades, velhas e novas esperançosas pelos barcos do senhor do píer.
Cada pequeno detalhe, cada curva, letra, pincelada e cordame, colocados com a lente de aumento e a pinça de metal não eram simples e meros detalhes, eram sim operações e milagres do divino. Horas investidas na certeza da surpreender olhos brilhantes, os mesmos olhos que gostaríamos de manter com o passar do tempo, quando finalmente os pequenos barcos ficavam prontos.
Em sua casa, algumas peças sobreviventes dos vendavais de “uaus”, “nossas”, e “que lindos” que acompanhados de rápidas mãos varriam de suas posses os belos trabalhos, dividiam espaço com rádios do tempo da válvula, réguas e compassos, mapas e desenhos das mais diversas origens e destinos, numa floresta digna de qualquer avô aventureiro e cheio de histórias para contar. Uma coleção de objetos fantásticos e de idéias sublimes numa vazão de conhecimento e aprendizagem, que apenas uma vida voltada para a própria razão de viver poderia querer manter.
E nessa confusão de caminhos é que se hospedava de tempos em tempos o pequeno neto. Curioso pela história de vida que o avô levara e pela química natural que apenas as gerações distantes poderiam compartilhar. Era esse neto que mantinha o velho avô a procura de determinados e específicos pedaços de matéria naquele local a beira da praia, para terminar a mais importante das suas peças.
O pequeno garoto acompanhou dias, semanas e meses sem fim seu admirável almirante avô, montar parte por parte da singela figura náutica que ali se erguia em um pedestal de mármore, guardado desde a muito em um dos incontáveis armários de seu avô e que seria usado na melhor das embarcações.

Senhor do Pier - 3ªParte

A proa imponente acompanhava a bela carranca orgulhosa de ser a guia para a vida adulta daquela semente de gente, que veio do filho mais velho. O mastro, de palitos de madeira leve, pintados e lixados, finos e longos, carregando com honra as velas de pano bege. Laterais erguidas com papelão, tinta e cola milimetricamente calculadas para que mesmo na verdadeira água do mar, não adernasse, indicando o caminho pelas águas da verdade e da beleza. E ao seu fim uma popa forte, timão e leme rígidos, montados com uma imaginação e vontade, na obrigação de manter o curso firme e apontar a aquela mente em formação os alferes de uma ocupada vida.
A beleza do momento da entrega de seu trabalho para alguém que representava tudo aquilo que o mar representou na vida do velho senhor do píer era um momento único, que logo em seguida foi sobrepujado por outra entrega. Foi quando o avô viu que sua pequena obra de arte trocar de mãos e de capitão.
A beleza do momento foi ultrapassada quando se neto, sangue de marinheiro urbano, desistia daquele importante símbolo da alquimia entre um avô e seu neto, entregando de bom grado e de livre escolha ao pobre menino de rua toda uma centena de horas de árdua seleção de peças e meticuloso trabalho. Dividindo um pouco de sua alegria e da felicidade que o permeava com alguém que merecia. Estimulando a imaginação e mostrando a direção da liberdade e da verdade a alguém que nunca foi dado o direito de sonhar.
O avô, com olhos cheios de lágrimas como se marejados de gostas do mar, sorriu e descobriu que tudo aquilo valeu a pena, o seu esforço, o seu árduo tempo de artesão transformados em um único gesto. Seu neto agora era um homem bom, que nem mesmo a força do grandioso mar poderia desviar do caminho dos justos. Depois de tanto anos ele aprendeu que o temos nas mãos o mar pode facilmente tirar, mas o que carregamos dentro de nosso coração podemos apenas dar.

André Dembitzky

ARÍSTYKOS

SONHO DE MARINHEIRO

SAUDADES

IMAGEM DE POEMA

FLOR DIGITAL

A MARGEM DA VIDA

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

sexta-feira, 7 de março de 2008

Registro do ato de nascimento de Dr.Dragolino

Único documento encontrado da dinastia DRAGO